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Mostrando postagens de janeiro 12, 2013

Visão Casimiro de Abreu

Visão Casimiro de Abreu Uma noite, meu Deus, que noite aquela! Por entre as galas, no fervor da dança, Vi passar, qual num sonho vaporoso, O rosto virginal duma criança. Sorri-me - era o sonho de minh'alma Esse riso infantil que o lábio tinha: - Talvez que essa alma dos amores puros Pudesse um dia conversar co'a minha! Eu olhei, ela olhou... doce mistério! Minh'alma despertou-se à luz da vida, E as vozes duma lira e dum piano Juntas se uniram na canção querida. Depois eu indolente descuidei-me Da planta nova dos gentis amores, E a criança, correndo pela vida, Foi colher nos jardins mais lindas flores. Não voltou; - talvez ela adormecesse Junto à fonte, deitada na verdura, E - sonhando - a criança se recorde Do moço que ela viu e que a procura! Corri pelas campinas noite e dia Atrás do berço d'ouro dessa fada; Rasguei-me nos espinhos do caminho... Cansei-me a procurar e não vi nada! Agora como um louco eu fito as turbas Sempre a ver se descubr...
O PASTOR AMOROSO Alberto Caeiro Fernando Pessoa 2 Este texto foi digitado por Eduardo Lopes de Oliveira e Silva, no Rio de Janeiro, em maio de 2006. Manteve-se a ortografia vigente em Portugal. 3 SUMÁRIO Quando eu não te tinha 4 Está alta no céu a lua e é primavera 5 Agora que sinto amor 6 Todos os dias agora acordo com alegria e pena 7 O amor é uma companhia 8 Passei toda a noite, sem saber dormir, vendo sem espaço a figura dela 9 Talvez quem vê bem não sirva para sentir 10 O pastor amoroso perdeu o cajado 11 4 I Quando eu não te tinha Amava a Natureza como um monge calmo a Cristo... Agora amo a Natureza Como um monge calmo à Virgem Maria, Religiosamente, a meu modo, como dantes, Mas de outra maneira mais comovida e próxima. Vejo melhor os rios quando vou contigo Pelos campos até à beira dos rios; Sentado a teu lado reparando nas nuvens Reparo nelas melhor... Tu não me tiraste a Natureza... Tu não me mudaste a Natureza... Trouxeste-me a Natureza para ao ...

FERNANDO PESSOA O Eu profundo e os outros Eus

FERNANDO PESSOA O Eu profundo e os outros Eus 20ª EDIÇÃO A EDITORA NOVA FRONTEIRA POEMAS DRAMÁTICOS NA FLORESTA DO ALHEAMENTO O MARINHEIRO NOTA PRELIMINAR* A LITERATURA DRAMÁTICA é uma subespécie de literatura narrativa, e esta uma espécie do gênero literatura. A literatura é a expressão verbal de um temperamento; a literatura narrativa a forma objetiva dessa expressão verbal; a literatura dramática a forma maximamente objetiva — ou seja, a forma sintética — dessa expressão objetiva. Um drama não é mais que um romance na sua forma máxima de síntese possível. Ê por atingir esta objetividade máxima que ele pode receber a aparência de vida, isto é, que ele pode ser simulado num palco por pessoas a que se chama atores. As qualidades possíveis do drama resultam, portanto, de três origens. Há as que ele tem em comum com todas as formas literárias, visto que ele é literatura; há as que ele tem, mais particularmente, em co...

A PARTIDA DO TROPEIRO Chiquinha Gonzaga

A PARTIDA DO TROPEIRO Chiquinha Gonzaga Companheiros, toca avante! Vamos todos a barandar A corte fica distante Temos muito que trotar Vou selar o meu fouveiro Que está farto de pastar Com esse burro motroqueiro Tenho contas que ajustar (sem mais tardar, sem mais tardar) Vinte léguas bem puxadas Temos hoje que fazer Se há poeira nas estradas É sinal que vai chover Então secos os regatos Está seco o riachão Mas há cheiro pelos matos Que faz bem ao coração (ao coração, ao coração) toca avante, benedito! Vai lança o burladês Esse burro, esse maldito Não me escapa desta vez Chama o Zé do Burandaco E tu monta no Baião Vai pegar-me esse velhaco Esse cabra, esse ladrão (burro ladrão, burro ladrão) Esse burro tem má copa Tem talento pra valer Sabe quando parte a tropa Vai nos matos se esconder Tem rabicho pela terra Esse denga malandrão E se sobe para a serra Ninguém hoje põe-lhe a mão (não põe a mão, não põe a mão) mas se não for encontrado há um meio de...

A SERTANEJA Chiquinha Gonzaga - Para Ler Agora!

A SERTANEJA Chiquinha Gonzaga Prateia a serra, tudo prateia O luar branco de minha aldeia (o luar branco de minha aldeia) Em minha terra Quando a lua sobre a serra A saudade se descerra Nos confins do coração A natureza Fica muda, fica presa Enlevada na beleza Do luar do meu sertão! Pela calada De uma noite enluarada O magote da boiada Fica olhando para o céu Se o vaqueiro Vem subindo pelo outeiro Vem a lua, sorrateiro Ergue a mão, tira o chapéu Lá na campina Quando a lua se reclina Geme a pomba, a sururina Canta e geme o pecoá Nas bananeiras Cantam as rolas cantadeiras Lá no topo das palmeiras Assobiá o sabiá Em minha aldeia Quando brilha a lua-cheia A matuta sapateia Nos requebros do baião E ao som do pinho Da viola e cavaquinho Tudo baila à luz de linho Do luar do meu sertão!