Visão Casimiro de Abreu Uma noite, meu Deus, que noite aquela! Por entre as galas, no fervor da dança, Vi passar, qual num sonho vaporoso, O rosto virginal duma criança. Sorri-me - era o sonho de minh'alma Esse riso infantil que o lábio tinha: - Talvez que essa alma dos amores puros Pudesse um dia conversar co'a minha! Eu olhei, ela olhou... doce mistério! Minh'alma despertou-se à luz da vida, E as vozes duma lira e dum piano Juntas se uniram na canção querida. Depois eu indolente descuidei-me Da planta nova dos gentis amores, E a criança, correndo pela vida, Foi colher nos jardins mais lindas flores. Não voltou; - talvez ela adormecesse Junto à fonte, deitada na verdura, E - sonhando - a criança se recorde Do moço que ela viu e que a procura! Corri pelas campinas noite e dia Atrás do berço d'ouro dessa fada; Rasguei-me nos espinhos do caminho... Cansei-me a procurar e não vi nada! Agora como um louco eu fito as turbas Sempre a ver se descubr...